Que
a morte me encontre vivo
O
título dessa mensagem foi extraída de textos e palestras do Leandro Karnal, e
foi popularizada no Brasil por ele. Antes dele, Donald Winnicott , psicanalista
inglês, usava essa frase como: "Tomara que a morte me encontre vivo."
O
medo presente nessa frase, não é a morte em si, mas a morte em vida.
É
o pavor de chegar ao fim e perceber que não se viveu, que apenas... se existiu.
E
as diferenças entre existir e viver são muito grandes:
·
Existir é ser passivo. É acordar, cumprir
obrigações, pagar contas, seguir o roteiro e dormir. É o piloto automático.
·
Viver é ser ativo. É estar presente, fazer
escolhas, sentir com intensidade, buscar propósito, arriscar, amar, falhar e
aprender.
Quando
a morte encontra alguém "morto em vida", ela apenas conclui um processo que já começou.
Encontra uma casca, alguém que já tinha desistido da essência da vida, talvez
por medo, apatia ou conformismo.
A frase de Karnal e Winnicott é um grito de alerta contra esse medo ou
conformismo.
Os
filósofos estoicos, como Sêneca e Marco Aurélio, tinham uma prática chamada Memento Mori – "Lembre-se
de que você é mortal".
Isso
não era para ser deprimente; era para ser um combustível. A consciência da
morte não deve nos paralisar de medo; deve nos chacoalhar para a urgência da
vida.
"Que
a morte me encontre vivo" é a consequência direta de um bom Memento Mori.
Se eu sei que meu tempo é finito, não posso jamais
desperdiçá-lo. Não posso deixar o "viver de verdade" para amanhã.
A
morte deixa de ser uma inimiga e se torna uma conselheira, que sussurra em
nosso ouvido: "Ame agora. Faça agora. Seja agora. Porque eu posso bater
à sua porta a qualquer momento."
Ser
"encontrado vivo" pela morte é ser encontrado no auge dessa
construção.
É
morrer:
Em
plena ação:
No meio de um projeto, de uma paixão, de uma luta.
Sendo
autêntico:
Tendo vivido uma vida que foi sua, e não a vida que os outros esperavam de
você.
Sem
arrependimentos: Ou, pelo menos, com os "arrependimentos
certos", aqueles que vêm de tentar, e não de nunca ter tentado.
É
a ideia de que, no último segundo, você possa olhar para trás e dizer:
"Sim, fui eu que vivi tudo isso.
Com todas as dores e delícias, eu estive lá. Eu estive presente na minha
própria vida."
Portanto,
a frase é uma aspiração, um norte para nossa jornada. É o desejo de que, quando
chegar a hora, ela não nos pegue sonolentos ou distraídos, mas em plena ação,
ofegantes, suados, talvez machucados, mas tendo dançado a dança inteira com
toda a intensidade que tínhamos.
Que
a morte tenha “trabalho" para nos levar, que ela nos encontre no auge de
nossa vida, com vitalidade e não em um estado de desistência e medo, encolhidos
em um canto, esperando por ela.
Jonas
Comin
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