17 setembro 2025

 

O destino dos átomos

 A grande questão que nos acompanha durante a vida é: o que vem após a morte? O que acontece com nosso espírito e com nosso corpo físico?

 A religião nos ensina que, após a morte, nosso espírito habitará o eterno, em outra morada, na vida nova, livre dos sofrimentos terrenos e em um lugar chamado “paraíso”.

 Jesus, em seus ensinamentos, nos promete isso. Outras crenças também oferecem esperança a seus seguidores de que, depois de nossa jornada por aqui, um novo lugar nos aguarda.

 Mas, fisicamente, o que ocorre com o invólucro de nossa alma?

Quando o corpo se silencia e a respiração se apaga, não é o fim, mas o início de uma metamorfose invisível.

 Os átomos que sustentaram músculos, que fizeram nosso cérebro funcionar e que constituíram nosso corpo começam a se desprender, retornando ao grande ciclo da natureza.

 O carbono, que deu forma às células e aos sonhos, dissolve-se em dióxido de carbono, seguindo para o ar ou repousando no solo em novos compostos. O nitrogênio, que correu em nossas veias, transforma-se em amônia e nitratos, nutrindo a terra e servindo de alimento às plantas. O fósforo e o cálcio, guardiões da estrutura dos ossos, lentamente regressam ao solo, fertilizando a vida. Hidrogênio e oxigênio reencontram a água, fechando o ciclo que nos deu origem.

Segundo a ciência, nada se perde, tudo se transforma. Do ponto de vista físico, toda energia que nos mantinha vivos retorna ao grande fluxo universal. A mesma energia que um dia entrou em nós pela comida, pela água, pelo ar e pelo sol volta às correntes de troca da natureza.

 Do ponto de vista filosófico, podemos imaginar que essa energia vital não desaparece, mas se integra ao todo, como uma centelha que se dissolve no fogo imenso do cosmos.

 O corpo humano, que um dia foi matéria consciente, reencontra sua origem cósmica. Os átomos que hoje nos formam, amanhã estarão no tronco de uma árvore, no voo de um pássaro, na água de um rio ou no brilho de uma estrela distante.

 É a dança eterna da matéria. Na morte, não há aniquilação, mas reintegração. Somos poeira de estrelas que, ao cessar da vida, retorna ao universo para se tornar parte de outros corpos, de outros mundos, de outras histórias.

 Essa é a grande lição: ao morrer, devolvemos ao universo aquilo que ele nos emprestou. Em cada ciclo, em cada transformação, a vida se renova.

 Carl Sagan dizia que somos poeira de estrelas. Os antigos filósofos viam a alma como um sopro que atravessa a matéria.

 Talvez a verdade esteja na união dessas visões: somos espírito que habita brevemente a carne, mas somos também matéria eterna, que jamais se extingue, apenas muda de forma.

 Na morte, não desaparecemos. Reencontramos o todo do qual sempre fizemos parte

 

Jonas Comin

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