O destino dos átomos
A grande questão que
nos acompanha durante a vida é: o que vem após a morte? O que acontece com
nosso espírito e com nosso corpo físico?
A religião nos ensina
que, após a morte, nosso espírito habitará o eterno, em outra morada, na vida
nova, livre dos sofrimentos terrenos e em um lugar chamado “paraíso”.
Jesus, em seus
ensinamentos, nos promete isso. Outras crenças também oferecem esperança a seus
seguidores de que, depois de nossa jornada por aqui, um novo lugar nos aguarda.
Mas, fisicamente, o
que ocorre com o invólucro de nossa alma?
Quando o corpo se
silencia e a respiração se apaga, não é o fim, mas o início de uma metamorfose
invisível.
Os átomos que
sustentaram músculos, que fizeram nosso cérebro funcionar e que constituíram
nosso corpo começam a se desprender, retornando ao grande ciclo da natureza.
O carbono, que deu
forma às células e aos sonhos, dissolve-se em dióxido de carbono, seguindo para
o ar ou repousando no solo em novos compostos. O nitrogênio, que correu em
nossas veias, transforma-se em amônia e nitratos, nutrindo a terra e servindo
de alimento às plantas. O fósforo e o cálcio, guardiões da estrutura dos ossos,
lentamente regressam ao solo, fertilizando a vida. Hidrogênio e oxigênio
reencontram a água, fechando o ciclo que nos deu origem.
Segundo a ciência,
nada se perde, tudo se transforma. Do ponto de vista físico, toda energia que
nos mantinha vivos retorna ao grande fluxo universal. A mesma energia que um
dia entrou em nós pela comida, pela água, pelo ar e pelo sol volta às correntes
de troca da natureza.
Do ponto de vista
filosófico, podemos imaginar que essa energia vital não desaparece, mas se
integra ao todo, como uma centelha que se dissolve no fogo imenso do cosmos.
O corpo humano, que
um dia foi matéria consciente, reencontra sua origem cósmica. Os átomos que
hoje nos formam, amanhã estarão no tronco de uma árvore, no voo de um pássaro,
na água de um rio ou no brilho de uma estrela distante.
É a dança eterna da
matéria. Na morte, não há aniquilação, mas reintegração. Somos poeira de
estrelas que, ao cessar da vida, retorna ao universo para se tornar parte de
outros corpos, de outros mundos, de outras histórias.
Essa é a grande
lição: ao morrer, devolvemos ao universo aquilo que ele nos emprestou. Em cada
ciclo, em cada transformação, a vida se renova.
Carl Sagan dizia que
somos poeira de estrelas. Os antigos filósofos viam a alma como um sopro que
atravessa a matéria.
Talvez a verdade
esteja na união dessas visões: somos espírito que habita brevemente a carne,
mas somos também matéria eterna, que jamais se extingue, apenas muda de forma.
Na morte, não
desaparecemos. Reencontramos o todo do qual sempre fizemos parte
Jonas Comin
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