26 maio 2012

As bases do comprometimento


Madre Teresa de Calcutá foi uma das principais personalidades do século XXI e muitas histórias sobre a sua vida só agora começaram a ser reveladas ao mundo com o merecido destaque. Numa delas, conta-se que um empresário bem-sucedido quis conhecê-la e foi até o hospital indiano onde a freira trabalhava para saber como ela atraía tantos voluntários.

Chegando lá, o viajante foi informado pela recepcionista de que poderia encontrá-la numa determinada ala, junto a enfermos de moléstias gravíssimas. Com receio de quais males seriam estes, o empresário colocou os paramentos necessários e ao aproximar-se de Madre Teresa viu que a freira estava ajoelhada cuidando das feridas de um pobre homem, que sentia muito dor.

Já neste primeiro momento ele ficou horrorizado, pois não era possível acreditar naquela cena. Aclamada como uma líder mundial, ela ainda precisava cuidar diretamente dos doentes, em que pese a sua idade avançada. “Cadê a equipe de trabalho que a segue?”, pensou ele. Mas, se manteve em silêncio acompanhando tudo o que acontecia.

Ao final do atendimento, apresentou-se a ela e comentou: “O seu trabalho é admirável e é por isto que eu quis tanto conhecê-la, mas eu não me submeteria a este trabalho por dinheiro algum”. Ao que ela respondeu: “Nem eu”.

Nas organizações também se discute há muitos anos como tornar as pessoais mais comprometidas com o seu trabalho. No entanto, antes de querer engajar os colaboradores à força, é necessário refletir até que ponto a cultura corporativa os tem estimulado a entregarem o seu melhor, afinal de contas toda empresa pode certificar-se de que seus funcionários estejam disponíveis o dia todo (ao pagarem salário), mas criatividade, disposição e alta performance são ofertadas voluntariamente.

As recompensas financeiras são importantes, mas não se pode acreditar que elas são remédio para tudo. Muitas empresas têm a cultura de gratificar as pessoas sempre que necessitam de um esforço adicional, mas a consequência negativa é que estes mesmos colaboradores acabam se tornando ainda menos compromissados e sempre que se pede algo a mais para eles vem a inevitável pergunta: “Tá, mas o que eu ganho com isso?”

A falta de clareza quanto à visão de futuro é outro grave problema. Quer um exemplo simples? São pouquíssimas as companhias nas quais todos – ou pelo menos, mais de 50% dos funcionários – sabem qual a grande meta que a empresa tem de alcançar no presente ano.

É necessário acreditar que as pessoas geralmente querem trabalhar de forma integral em suas organizações, mas como fazer isto se desconhecem qual o principal objetivo coletivo? Por conseguinte, acabam se comprometendo com suas metas pessoais e após um tempo se tem uma série de pessoas que trabalham no mesmo lugar, mas só buscam aquilo que interessa a si próprios.

Quando as pessoas sabem para onde devem ir, elas se apaixonam facilmente por aquilo que fazem, seu trabalho começa a ter significado e não ficam contando as horas na expectativa de que o dia acabe logo. Aquele mesmo colaborador desmotivado no trabalho, muitas vezes é a mesma pessoa que fora do ambiente corporativo é alguém extremamente bem-sucedido e repleto de energia, pois sabe muito bem para onde vai e os resultados que deseja colher.

Também é importantíssimo destacar que muito do comprometimento individual do colaborador vem da relação que este possui com seu líder direto, visto que mais de dois terços das pessoas que pedem demissão atualmente estão se desligando de seus chefes e não da empresa. É aquela velha história: “Já que ele não vai sair, então saio eu...”

Quando as pessoas são lideradas por alguém que as inspira por meio do exemplo, conhecem e são estimuladas a contribuírem para o alcance dos principais objetivos da empresa e atuam numa cultura organizacional estimulante, seu comprometimento é real. Além disso, compreendem muito 
bem o que Madre Teresa já fazia anos atrás. 

Wellington Moreira

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