20 novembro 2025

 

Que a morte me encontre vivo

 

O título dessa mensagem foi extraída de textos e palestras do Leandro Karnal, e foi popularizada no Brasil por ele. Antes dele, Donald Winnicott , psicanalista inglês, usava essa frase como: "Tomara que a morte me encontre vivo."

 O medo presente nessa frase, não é a morte em si, mas a morte em vida.

 É o pavor de chegar ao fim e perceber que não se viveu, que apenas... se existiu.

 E as diferenças entre existir e viver são muito grandes:

 ·         Existir é ser passivo. É acordar, cumprir obrigações, pagar contas, seguir o roteiro e dormir. É o piloto automático.

·         Viver é ser ativo. É estar presente, fazer escolhas, sentir com intensidade, buscar propósito, arriscar, amar, falhar e aprender.

Quando a morte encontra alguém "morto em vida",  ela apenas conclui um processo que já começou. Encontra uma casca, alguém que já tinha desistido da essência da vida, talvez por medo, apatia ou conformismo.


A frase de Karnal e Winnicott é um grito de alerta contra esse medo ou conformismo.

 Os filósofos estoicos, como Sêneca e Marco Aurélio,  tinham uma prática chamada Memento Mori – "Lembre-se de que você é mortal".

 Isso não era para ser deprimente; era para ser um combustível. A consciência da morte não deve nos paralisar de medo; deve nos chacoalhar para a urgência da vida.

 "Que a morte me encontre vivo" é a consequência direta de um bom Memento Mori.

  Se eu sei que meu tempo é finito, não posso jamais desperdiçá-lo. Não posso deixar o "viver de verdade" para amanhã.

 A morte deixa de ser uma inimiga e se torna uma conselheira, que sussurra em nosso ouvido: "Ame agora. Faça agora. Seja agora. Porque eu posso bater à sua porta a qualquer momento."

 Ser "encontrado vivo" pela morte é ser encontrado no auge dessa construção.

 É morrer:

 Em plena ação: No meio de um projeto, de uma paixão, de uma luta.

Sendo autêntico: Tendo vivido uma vida que foi sua, e não a vida que os outros esperavam de você.

Sem arrependimentos: Ou, pelo menos, com os "arrependimentos certos", aqueles que vêm de tentar, e não de nunca ter tentado.

É a ideia de que, no último segundo, você possa olhar para trás e dizer: "Sim, fui eu que vivi tudo  isso. Com todas as dores e delícias, eu estive lá. Eu estive presente na minha própria vida."

 Portanto, a frase é uma aspiração, um norte para nossa jornada. É o desejo de que, quando chegar a hora, ela não nos pegue sonolentos ou distraídos, mas em plena ação, ofegantes, suados, talvez machucados, mas tendo dançado a dança inteira com toda a intensidade que tínhamos.

 Que a morte tenha “trabalho" para nos levar, que ela nos encontre no auge de nossa vida, com vitalidade e não em um estado de desistência e medo, encolhidos em um canto,  esperando por ela.

 

Jonas Comin

 

22 setembro 2025



Que ninguém passe por ti em vão

Platão foi um filósofo grego. Nasceu em Atenas, em 427 a.C., e morreu por volta de 347 a.C. Foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, formando uma das tríades mais influentes da filosofia ocidental. 

Escreveu seus ensinamentos em forma de diálogos filosóficos, nos quais frequentemente Sócrates é o personagem principal.

Algumas de suas obras mais famosas são:

A República (sobre justiça e a cidade ideal)

O Banquete (sobre o amor)

Fedro (sobre a alma e a retórica)

Timeu e Parmênides (sobre cosmologia e metafísica)

Uma das ideias centrais de Platão é o “bem” como princípio supremo. Para ele, o bem é a forma mais elevada e a fonte de toda verdade e justiça.

Outra concepção marcante é a da “Alegoria da Caverna”: metáfora sobre o conhecimento e a ignorância, na qual os homens vivem presos às sombras (ilusões) até despertarem para a luz da verdade (tema para outro dia).

Vamos nos concentrar na ideia da prática do “bem”.

Platão nos ensinou que a alma humana só encontra sua plenitude ao praticar o bem. 

Viver é mais do que existir — é tocar o outro com presença, com palavra, com gesto. Que ninguém cruze teu caminho e diga: “Dele, nada recebi.”

Mesmo no silêncio pode haver acolhimento, e até um olhar pode ser luz para quem anda na escuridão. O verdadeiro sábio não acumula virtudes para si; ele as reparte como quem distribui água a viajantes sedentos.

Se não for possível ensinar, que se inspire. Se não for possível curar, que ao menos não se machuque. Mas se houver oportunidade de doar algo,  uma escuta, um pensamento, um alento, que não se perca.

Ser útil ao outro é caminhar rumo ao bem. E o bem, dizia Platão, é aquilo que nos torna mais próximos do divino.

Platão não apenas influenciou profundamente a filosofia, mas também a teologia, a política, a psicologia e a educação. Sua Academia funcionou por quase 900 anos, até ser fechada no século VI d.C.

Que o bem não seja apenas um ideal filosófico, mas um gesto diário.

Que sejamos lembrados, não pelo que possuímos, mas pelo que soubemos oferecer.

E que, ao fim de nossa jornada, se possa dizer com verdade: “Dele, recebi muito.”

Jonas Comin


18 setembro 2025



A matemática inscrita na natureza  

As abelhas zumbem, voam e produzem mel. Mas por trás das asas que vibram e dos favos dourados que encantam os olhos, elas escondem um segredo antigo, elegante e silencioso: são exímias matemáticas.

 Ao construir suas colmeias, não escolhem qualquer forma. Usam o hexágono, figura de seis lados iguais, capaz de preencher um espaço plano sem deixar lacunas. A construção dos alvéolos, pelo fato de serem usados apenas dois tipos de ângulos, um de 109028′ e outro, seu suplemento, de 70032′, são ângulos perfeitos, que se repetem nas colmeias ao redor da Terra e não são escolhidos ao acaso. O hexágono é a forma que, com o menor perímetro, consegue armazenar o maior volume. Ou seja, com o mínimo de cera, as abelhas obtêm o máximo de espaço. Isso é eficiência. Isso é geometria pura aplicada à sobrevivência.

 Estudos científicos e observações revelaram que, ao buscarem néctar, as abelhas traçam rotas otimizadas entre os campos e as flores. Sem saber calcular como os humanos, elas resolvem, de forma instintiva, versões do complexo "problema do caixeiro viajante". Buscam o menor caminho entre muitos pontos, economizando energia, ganhando tempo e garantindo alimento para a colmeia.

Quando uma abelha encontra alimento, retorna à colmeia trazendo consigo a informação precisa da descoberta. Compartilha com suas companheiras dados sobre a rota, a direção, o sentido, a posição e até mesmo a direção do vento. E tudo isso é transmitido por meio de uma dança matemática. Ela vibra em zigue-zague, sobe, desce, descreve ângulos e curvas. Nessa coreografia, codifica e repassa dados baseados na posição do Sol.

Além da geometria e da otimização de rotas, as abelhas revelam outra habilidade fascinante: a simetria. Seus corpos e asas seguem padrões precisos, harmônicos e repetidos. Há algo de poético nisso. A natureza parece escrever com compassos invisíveis, usando as abelhas como instrumentos de sua própria inteligência. 

Ao observarmos uma colmeia, vemos mais do que insetos em movimento. Enxergamos o reflexo de uma ordem natural que valoriza a lógica, a harmonia e a eficiência. As abelhas não aprendem isso em escolas. Praticam uma matemática intuitiva, instintiva e perfeita, que muitas vezes ultrapassa a engenhosidade humana.

A colmeia, afinal, não é apenas uma moradia. É um manifesto. É arte geométrica. É o grito silencioso de que a matemática está viva, pulsando entre as flores, dançando no ar e se escondendo não apenas no zumbido e na dança das abelhas, mas em toda a natureza abundante do planeta Terra.

Nós, humanos “inteligentes”, precisamos prestar mais atenção na natureza e aprender com ela. Sempre digo: o Criador é o grande matemático e geômetra.

 Galileu já dizia: “A matemática é a linguagem com a qual Deus escreveu o universo.”

 

Jonas Comin